quinta-feira, 7 de agosto de 2014

O gaúcho e o cavalo

Sempre torci o queixo para o livro "O Gaúcho" de José de Alencar. Afinal, que poderia um pisa flores como ele saber de nossa cultura? Terminei ontem de madrugada e, apesar de alguns exageros, típicos da época em que foi escrito, foi uma grata surpresa tê-lo conhecido finalmente.

As aventuras de Manuel Canho para vingar o pai e acalmar a alma são acompanhadas de perto por seus cavalos, a quem ele tinha como irmãos. E essa essência, de Centauro do Pampas, Alencar soube expressar muito bem. Com bem menos talento, por supuesto, fiz algum tempo atrás uns versos que agora compartilho. Ainda com a lembrança dos pingos literários Juca, Morena, Ruão e Morzelo! Que Deus os tenha, assim como todo flete pampeano, extensão e alma do gaúcho!



Se meu cavalo falasse

Tenho um cavalo de ouro,
Daqueles que não se esquece,
Mas tá partindo, meu mouro
Pois cavalo também envelhece!

Meu flete está me deixando,
Mas pra sempre vou lembrá-lo,
Vai meu pingo trotando,
No rumo do céu dos cavalos...

Não queria ver o momento
Do final desta parceria,
De rédea um pensamento,
Ah, que baita montaria!

Se o meu cavalo conversasse,
Quantas histórias contaria
Ah, se o meu pingo falasse,
Quem sabe o que ele diria...

"Troteei na pampa afora,
Paleteando muito boi brabo,
Já servi de carga e escora,
Mas sou forte e nunca me acabo"

"Cavalguei faceiro no corredor,
Levando no lombo o ginete,
Que sempre me deu valor,
E me tratava feito gente"

"Era bem mais que meu dono,
Pois era como um amigo,
Montava com tope e entono
E sempre contava comigo!"

"Nas correrias de marcação
Ou trotando rumo à mangueira
Nem precisa rédea na mão,
Quando a dupla é bem parceira"

"Quando se ia pros fandango,
As pilchas bem arregladas,
Levava na mão um mango,
Somente pra fazer fachada!"

"E eu ia loco de bueno,
Pateando de cola alçada,
Faceiro feito um sinuelo,
Desfilando pela estrada"

"Mas o tempo passa pra todos,
E passou pra mim também,
Vieram pingos mais novos,
Só me restou dizer amém!"

"Não me arrependo de nada,
E sempre vou confirmá-lo...
Tive a existência iluminada,
Que bom que nasci cavalo!"



Homem e cavalo em uma só alma parelha: em dose dupla é ainda mais bagual

Parceria: Chupim veio de guerra, meu parceiro de 20 de Setembro






quarta-feira, 27 de novembro de 2013

A Batalha do Rio Negro e uma das maiores mentiras sobre a história do Rio Grande

Exatamente hoje, 27 de novembro de 2013, completam-se 120 anos de um dos episódios mais emblemáticos da história gaúcha. Foi neste dia, na estação do Rio Negro, próxima a Bagé, que se deu uma das batalhas mais sangrentas da Revolução Federalista.

Naquele dia, uma coluna do Gen. Joca Tavares atacou a coluna do Mar. Isidoro Fernandes, entrincheirada nas cercanias da estação. A luta foi feroz e após um dia inteiro de peleia os maragatos impuseram uma estrondosa derrota aos chimangos: mais de trezentos castilhistas foram mortos na batalha.

Ocorre que depois da derrota, os chimangos, que detinham a máquina pública e boa parte da imprensa gaúcha, criaram o boato que persiste até hoje: que os 300 mortos, na verdade, haviam sido degolados pelos maragatos. O mito foi crescendo e com a vitória dos castilhistas ao final da guerra, foi a versão que permaneceu na história.

Mas a verdade é bem diferente disso. Basta uma pesquisa histórica isenta e de certo fôlego para mostrar que houve, de fato, degolas naquele dia, mas foram em torno de duas dúzias. Os condenados eram criminosos conhecidos, contratados como mercenários, prática comum entre os castilhistas (e, em menor medida, também pelos maragatos).

Uma visita ao diário de Joca Tavares dá detalhes sobre esse dia. Embora representasse um dos lados e, portanto, fosse naturalmente parcial, o diário do general é minucioso e detalhista e não deixa dúvidas quanto aos eventos daquele dia. Além disso, pesquisas feitas pelo grande historiador Alfredo Ferreira Rodrigues (por acaso, meu bisavô) indicam também que aconteceram pouco mais de 20 degolas.

Por outro lado, não resta dúvida sobre a ação criminosa do Cel. Firmino de Paula no Boi Preto, em abril de 94. Surpreendidos enquanto churrasqueavam, cerca de 280 maragatos foram degolados, a título de "vingança". Muitos foram mutilados, castrados e torturados antes de lhes passaram a faca no pescoço.

Essa é uma parte da história do Rio Grande que tenta-se esquecer. Mas só conseguiremos nos livrar de nossos fantasmas quando os encararmos de frente. A Revolução Federalista, que completa 120 anos, merece ser revisitada. A história, como sempre, foi escrita pelos vencedores. Mas ela não está completa.



quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Outros tempos - 20 de setembro

Por ocasião do 20 de setembro, posto aqui um poemito, no qual faz-se uma crítica aos modismos que desvirtuaram a essência pampa.

Outros tempos
Sentado sobre os pelegos
Deixo o mate molhar a palavra
Mirando o passado e colhendo
Os poucos versos de mi lavra

Os tempos agora são outros,
A essência pampa se vai, apartada
Os recuerdos agora são poucos
E nossa história se esvai, transformada

A tradição agora tem dono
Como se pudessem embretá-la,
O patrão agora tem trono
E a história se trai, maltratada

Se fazem agora regramentos
Das vestes da gauchada
E se esquece dos outros tempos
De nossa gênese esfarrapada

Memórias índias vão esquecidas
No campo santo das Missões
Palco de lutas aguerridas
Entre lanças e canhões

Encerram-se liberdades
Nas fronteiras pampeanas
E se criam, nas cidades
Fantasias haraganas

Nos campos de Cima da Serra
Novas modas são inventadas
Trazidas de outras terras
Ganham campo nas canhadas

Mais estranho é o cancioneiro
Que se diz voz do nosso chão
E espanta o estancieiro,
O capataz e o peão.

Tudo concentra e emana
A mui leal e valorosa,
E os gaúchos de fim de semana
Se desvelam em verso e prosa

Mas agora os tempos são vagos
E não importam as tradições
O que vale agora são cargos
E o faz de conta de galpões




sexta-feira, 17 de maio de 2013

Os textos apócrifos de Faroeste Caboclo

Os fãs ansiosos finalmente serão recompensados pela espera. Faroeste Caboclo - o filme, previsto para estrear no dia 30 de maio, promete honrar o clássico da Legião Urbana. Quem conhece a música desde que ela foi lançada sempre imaginou que ela fosse parar nos cinemas, tal é a riqueza de imagens que ela nos traz. Mesmo as novas gerações, quando a escutam pela primeira vez, ficam hipnotizadas com a saga de João de Santo Cristo.

Eu convivi de perto com essa história durante o período que produzi conteúdos para o site oficial do filme e divido agora com vocês alguns dos melhores textos. O primeiro deles é inédito, não entrou no site, não lembro exatamente porquê! Logo depois, uma seleção dos meus preferidos!

Morte e Vida Joanina

João de Santo Cristo não tinha medo. A vida foi cruel com ele e ele foi cruel com a vida. Não porque tivesse nascido perverso. Não porque achasse bom ser ruim. Mas porque foi a vida que o fez assim. Porque não teve escolha ou não sabia que tinha. Porque não achou as respostas. Porque tinha que ser.

A ideia de ser bandido o acompanhava desde criança. O desejo de vingança, o sentimento de exclusão, preconceito e solidão foram tirando aos poucos a inocência do menino do interior. Cresceu sem ver ou saber o que era bondade e dever. Não lhe estenderam a mão e não lhe entenderam o coração.

Mas não era santo e cristo? Nem tão santo ou nem tão cristo. Mas João ele era e como tal trabalhou até a morte do jeito certo, honesto e direito. Tinha esperança. Mas quando a santidade acabou, quando o cristo faltou e a tentação ganhou, João se libertou e o fim começou.

Afinal, quem foi João de Santo Cristo? João de Santo Cristo não é um. Mas dezenas, centenas, milhares de Joãos, nem tão santos ou nem tão cristos, mas que só querem parar de sofrer de um sofrimento infinito. Que saem do campo para a cidade querendo matar a fome e criar os filhos. Às vezes criam a fome. Às vezes matam os filhos. Saem da pobreza e da miséria para tentar ser gente na vida. Nem sempre conseguem. Nem sempre desistem. Mas por crença ou teimosia eles sempre persistem.

Eles são retirantes, que se retiram da própria vida. Que cheguem aos milhões às cidades, que carregam pedra, que lavam roupa, que sobem paredes, por coisa pouca. Que vencem na vida só por nela estar. Todos com a mesma sina, de ser sempre de fora e de nunca fazer parte da festa. Mas se não for isso sofrer é o que resta.

Ou, como diria um outro João*: E se somos Joãos, iguais em tudo na vida, morremos de morte igual, mesma morte joanina: que é a morte de que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte, de fome um pouco por dia - (de fraqueza e de doença é que a morte joanina, ataca em qualquer idade, e até gente não nascida).  

Mas João vai ganhar vida mais uma vez. Na pele de um personagem, na tela do cinema, vai encarnar a saga de tantos como ele. Vai mostrar sua cara. Vai dizer a que veio. Vai ser ouvido. Vai contar sua história e de muitos Joãos que terão sua hora e sua vez. E lembrar que todos temos um pouco de João, de Santo ou de Cristo.

*João Cabral de Melo Neto, autor de Morte e Vida Severina


Seleção de Textos

Estes textos foram publicados no site oficial do filme e contextualizavam situações, trechos ou lugares a que a música se refere. Foi um trabalho incrível de se fazer e rendeu ótimos frutos. Confere aí!

Winchester 22 - Arma icônica dos faroestes e essencial na história de João de Santo Cristo

Os anos de João de Santo Cristo  Contextualização do período em que a história se passa

Peixe com ascendente em Escorpião Uma "análise" dessa combinação explosiva em JSC

Contrabando de armas no Brasil Um retrato desse cenário no país


Faroeste e o caboclo Para entender a junção desses dois universos

Honra se lava com sangue História dos duelos e dos crimes de honra


Faroeste Caboclo - Uma análise narrativa Um artigo incrível do Prof.Dr. Luiz Gonzaga Motta com uma análise da canção de Renato Russo

Cordel Urbano A inspiração para Faroeste Caboclo

Série "Deu no jornal", explorando o noticiário que formava o universo de Santo Cristo:

O começo de tudo A infância do nosso anti-herói

Mensagens do passado Recados secretos dos candangos

A mãe de João de Santo Cristo Ela bem que tentou

O pai de João de Santo Cristo Sua morte plantou a semente do ódio


Top 5 René Sampaio As melhores cenas do filme na opinião do diretor


Perfil Antonio Calloni O Mustafá também já foi vilão

É pau, é ferro, é o fim do caminho Locações das primeiras cenas

As festas de Rock "Pra se libertar"

Aborto Elétrico no Rock in Rio De volta aos holofotes

Urbana Legio Omnia Vincit Legião Urbana Vence Tudo

Uma noite para a história Tributo a Renato Russo no Rock in Rio

15 anos sem Renato Russo Muito tempo sem o Trovador Solitário


O pai de Maria Lúcia O saudoso Marcos Paulo em um dos seus últimos trabalhos

Série "Cadernos de Renato Russo" 

No tempo em que ficou preso a uma cama, Renato mantinha um diário onde despejava todo a sua energia e genialidade, detalhando projetos futuros

Destaque no Jornal Nacional Edição histórica do telejornal, quase toda dedicada a Renato Russo no dia do seu falecimento

O leite e o mel de Dom Bosco A profecia sobre a localização da futura capital

O céu de Brasília Um dos mais lindos do mundo

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Antes de ser pai..

Algum tempo atrás escrevi esse texto, falando sobre algumas coisas da paternidade... Não é um texto definitivo, claro, mas antes de ser pai a gente nem faz ideia. 

Hoje, dia em que o Cap. Rodrigo chegou pra me fazer ainda mais feliz, me deu vontade de ler de novo esse texto, feito para o meu primeiro filho, João:


Antes de ser pai

Antes de ser pai eu nem fazia ideia...
Antes, bem antes de ser pai, eu fui filho
E não cheguei a entender completamente meu pai

Antes de ser pai eu casei e já era muito feliz, mas sentia que faltava algo
Por outro lado, antes de ser pai minha mulher era só minha!

Antes de ser pai eu tinha o sono pesado, a voz alta e dias de folga
Antes de ser pai eu não conhecia o significado de PN ou RN
Antes de ser pai não sabia que existiam tantos tipos de bicos e mamadeiras
E nem sabia o que era um cuero

Antes ser pai ninguém tinha vomitado em mim
E eu nuca tinha analisado os diferentes matizes de um cocô
Antes de ser pai nunca pensei em vibrar com o arroto de outra pessoa

Antes de ser pai eu nunca pensei em me apaixonar por um homem,
Ainda mais a primeira vista!
Antes de ser pai eu não sabia que um sorriso banguela podia ser o mais lindo do mundo...

Antes de ser pai eu não sabia que dava tanto trabalho
E nem imaginava que era a melhor coisa do mundo

Mas tudo isso, antes de ser pai!


quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Poema para um gauchito desgarrado

O 20 de setembro é uma data especial para todos os gaúchos. Para os que estão desaquerenciados esse dia assume uma importância ainda maior: longe dos pagos, o gaúcho sente que algo lhe falta e sente ainda mais forte suas raízes haraganas.

Meu primeiro filho nasceu longe do Rio Grande, mas é um gauchito loco de especial. E hoje, por ocasião da data, compartilho aqui o poema que fiz pra ele, lembrando sua gênese farroupilha:


Dois anos











Dois anos, filho, da tua chegada
Um tempo tão pouco e já é tanto
De sorrisos, carinhos e prantos
De uma vida já tão amada

Dois anos de uma alegria imensa
De um amor forte e abençoado,
Grande como o céu do Cerrado
Que é nosso teto e nossa querência
São tantas coisas para contar,
De noites insones ou mansas,
De dentes, risos e danças
Neste campo aberto das lembranças
Dois anos e já te fez guapo,
Piá mui vivaracho de papo,
Gauchito redomão e arteiro,
Um filho mui querido e companheiro
E mesmo que esteja longe dos pagos, 
Longe dos avós e dos afagos,
E que esse tempo já pareça tanto
És pampeano, meu filho, te garanto
Não que o gaúcho seja santo, 
Mas se afasta do pago a muito custo
E tenta esconder um sincero pranto,
Porque ser gaúcho é ser justo
E por isso te lembro as raízes,
Para conheceres as matrizes,
Pois são dois anos e já é tanto,
Mas és pampeano, te garanto.

É o sangue gaúcho que corre em tuas veias
De guerras, batalhas, peleias,
De uma estirpe nobre que cultiva a memória
De um passado, de uma cultura, de uma história
És mais um gaúcho desgarrado
Pela imensidão clareada do cerrado,
De um horizonte que às vezes lembra,
O nosso campo, solo sagrado.
Aqui nasceste, na linda Brasília,
Para alguns porto, para outros ilha
Mas mesmo assim te lembraria
Que tua gênese é haragana, farroupilha


Por isso meu filho, não te esqueças
Ainda que por aqui cresças,
Que a distância do pago seque o pranto,
Que o tempo se torne acalanto,
Que o amargo amigo esteja de canto,
E que não vejas o sagrado manto
E ainda que o tempo seja tanto...
És pampeano, meu filho, eu te garanto!


E para completar, um belo hino de louvor a "los gauchos" - O Grito dos Livres:

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O nome da bola


 
Muitos foram surpreendidos hoje com a notícia de que o nome da bola oficial da Copa do Mundo 2014 será definidono domingo (02/09), durante o programa Esporte Espetacular. A votação já está aberta há algum tempo e os três nomes finalistas são: Bossa Nova, Carnavalesca e Brazuca. Não, não é brincadeira, as opções são essas. Só essas!

Passado o susto inicial com as alternativas que temos, fiquei pensando no que representa o nome da bola em um evento como a Copa do Mundo, aguardado e assistido por todo o planeta. E quero compartilhar minhas impressões, até para ter certeza de que sou o único que achou infelizes essas três possiblidades.

Primeiro, é importante contextualizar o papel da bola durante a história das Copas. Por paradoxal que pareça, a bola nunca foi protagonista nos torneios até a Copa de 70, no México. Até então, as bolas não passavam disso mesmo: bolas. Eram feitas de couro, toscas, da cor marrom, duras, com a costura exposta (durante as primeiras Copas era comum o uso de faixas ou gorros, pois as costuras da bola causavam lesões sérias em quem se arriscava a cabeceá-la).

Mas no México houve uma inovação. No futebol? Não! Na televisão. Pela primeira vez a Copa do Mundo seria transmitida em cores. Hoje, com televisores 3D e tudo mais isso parece uma bobagem, mas para a época foi uma revolução. Assim, a bola merecia uma nova roupagem. Finalmente, lhe seria dado o devido destaque. Surgiu então a TELSTAR (não por acaso, “estrela da televisão”). Com 32 painéis (ou gomos) costurados a mão, a bola tinha uma circunferência perfeita. Ou seja, era redondinha. Em 74, a TELSTAR apareceu novamente, sem muitas modificações.


Na Copa da Argentina, em 1978, o nome da bola passou a ser mais conceitual, trazendo elementos que identificassem o país sede. O nome não poderia ser outro: Tango. Dessa vez eram 20 painéis, com desenhos que formavam 12 círculos. Uma bola linda. Foi a matriz para as que vieram depois. Em 82, na Espanha, a bola foi a TANGO ESPAÑA, exatamente igual a anterior.

Novamente no México, em 1986, a Copa do Mundo foi jogada com a AZTECA, um nome muito bacana, com desenhos lembrando o antigo povo que habitou o país. Em 90, na Itália a bela ETRUSCO UNICO deixou sua marca. Em 1994, na Copa dos EUA, a bola foi a QUESTRA. Tinha algumas inovações tecnológicas que a deixaram mais suave, mais veloz e mais sensível (Baggio que o diga).

Em 1998 a bola foi, a TRICOLORE, inspirada obviamente na bandeira da França. Era toda fashion e também trazia algumas inovações como uma espuma sintética, enchimento de gás, fechamento individual e “micro balões altamente duráveis” seja lá o que isso signifique.

Em 2002 a Adidas, fornecedora oficial das bolas da Copa, abandonou o design Tango. A ultra moderna FEVERNOVA tinha um conceito mais “asiático”. Não era tão bonita como as Tango, mas quem (como eu) teve oportunidade de jogar com ela sabe que era um filé. Muito gostosa!

Na Copa da Alemanha, em 2006, a Adidas “jogava em casa” e quis apresentar uma bola revolucionária no design e na tecnologia. Nascia a TEAMGEIST, cheia de inovações que não deram lá muita sorte para a seleção brasileira.

A JABULANI, em 2010, foi uma das bolas mais comentadas da história. Não porque fosse a melhor ou mais bonita, mas porque era muito difícil de controlar. Aqui no Brasil ficou famoso o bordão “Jabulaaaaaani” na voz fantasmagórica de Cid Moreira, cada vez que um jogador lançava a bola na arquibancada.

Agora, cá estamos nós, decidindo entre Bossa Nova, Carnavalesca e Brazuca. Então vamos analisar cada uma das nossas opções.

Bossa Nova

Mesmo que o ritmo não seja uma unanimidade, é fato que a Bossa Nova é uma espécie de mito fundante da Música Popular Brasileira. Mas, qual é a primeira relação que se faz quando pensamos em Bossa Nova? Rio de Janeiro, praia, “um barzinho um violão, esse amor uma canção”... O que quero dizer com isso é que o nome remete a UM aspecto do Brasil e não ao país como um todo. As Olimpíadas serão no Rio - A Copa será no Brasil! Acho injusto com o resto do país, que também tem manifestações culturais riquíssimas, um nome que “privilegie” uma cidade (e um conceito) em particular.

Carnavalesca

Nem merecia comentários. Se fosse Carnaval, ainda vá lá, mas Carnavalesca? Mas vamos lá... A Copa do Mundo será (?) uma bela oportunidade para o Brasil demonstrar que não passamos o ano inteiro pelados pulando ao som de escolas de samba. Mais uma vez, a ligação direta que se faz é com o Rio e todo o seu contexto. Antes que me acusem de não gostar do Rio eu digo que adoro. A questão não é essa. O país tem um estereótipo fortemente consolidado no exterior que, certamente, não condiz com a nossa realidade. Gostamos de festa e carnaval sim, mas somos muito mais do que isso. Assim como Bossa Nova, Carnavalesca só reforçaria a imagem que já temos. Será que não queremos que ela seja mais forte, mais verdadeira?

Brazuca

É o menos pior dos três nomes. Ainda assim acho ruim (cara chato, né?). Remete um pouco ao “sou brasileirÔ, com muito orgulhÔ, com muito amÔooor”. Conceitualmente é bacana. O que incomoda é que a Copa do Mundo é... do Mundo! Não é só dos brasileiros. Os nomes das outras bolas remetiam à cultura e à identidade dos países sede, mas não eram tão descaradamente ufanistas assim. “Qual a tua sugestão então, mala?”, devem estar falando....

Bueno, se eu pudesse decidir o nome seria PAMPA. Ah, não gostou é? Pois é, Pampa poderia fazer muito sentido para os gaúchos (como eu) para os Uruguaios e Argentinos. Mas e para o resto do Brasil? E para o resto do Mundo? O que significa Pampa... Pois, é!

Assim, um nome que, embora estereotipado, representaria o Brasil muito bem é SAMBA. E tem tudo a ver com futebol.