quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Antes de ser pai..

Algum tempo atrás escrevi esse texto, falando sobre algumas coisas da paternidade... Não é um texto definitivo, claro, mas antes de ser pai a gente nem faz ideia. 

Hoje, dia em que o Cap. Rodrigo chegou pra me fazer ainda mais feliz, me deu vontade de ler de novo esse texto, feito para o meu primeiro filho, João:


Antes de ser pai

Antes de ser pai eu nem fazia ideia...
Antes, bem antes de ser pai, eu fui filho
E não cheguei a entender completamente meu pai

Antes de ser pai eu casei e já era muito feliz, mas sentia que faltava algo
Por outro lado, antes de ser pai minha mulher era só minha!

Antes de ser pai eu tinha o sono pesado, a voz alta e dias de folga
Antes de ser pai eu não conhecia o significado de PN ou RN
Antes de ser pai não sabia que existiam tantos tipos de bicos e mamadeiras
E nem sabia o que era um cuero

Antes ser pai ninguém tinha vomitado em mim
E eu nuca tinha analisado os diferentes matizes de um cocô
Antes de ser pai nunca pensei em vibrar com o arroto de outra pessoa

Antes de ser pai eu nunca pensei em me apaixonar por um homem,
Ainda mais a primeira vista!
Antes de ser pai eu não sabia que um sorriso banguela podia ser o mais lindo do mundo...

Antes de ser pai eu não sabia que dava tanto trabalho
E nem imaginava que era a melhor coisa do mundo

Mas tudo isso, antes de ser pai!


quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Poema para um gauchito desgarrado

O 20 de setembro é uma data especial para todos os gaúchos. Para os que estão desaquerenciados esse dia assume uma importância ainda maior: longe dos pagos, o gaúcho sente que algo lhe falta e sente ainda mais forte suas raízes haraganas.

Meu primeiro filho nasceu longe do Rio Grande, mas é um gauchito loco de especial. E hoje, por ocasião da data, compartilho aqui o poema que fiz pra ele, lembrando sua gênese farroupilha:


Dois anos











Dois anos, filho, da tua chegada
Um tempo tão pouco e já é tanto
De sorrisos, carinhos e prantos
De uma vida já tão amada

Dois anos de uma alegria imensa
De um amor forte e abençoado,
Grande como o céu do Cerrado
Que é nosso teto e nossa querência
São tantas coisas para contar,
De noites insones ou mansas,
De dentes, risos e danças
Neste campo aberto das lembranças
Dois anos e já te fez guapo,
Piá mui vivaracho de papo,
Gauchito redomão e arteiro,
Um filho mui querido e companheiro
E mesmo que esteja longe dos pagos, 
Longe dos avós e dos afagos,
E que esse tempo já pareça tanto
És pampeano, meu filho, te garanto
Não que o gaúcho seja santo, 
Mas se afasta do pago a muito custo
E tenta esconder um sincero pranto,
Porque ser gaúcho é ser justo
E por isso te lembro as raízes,
Para conheceres as matrizes,
Pois são dois anos e já é tanto,
Mas és pampeano, te garanto.

É o sangue gaúcho que corre em tuas veias
De guerras, batalhas, peleias,
De uma estirpe nobre que cultiva a memória
De um passado, de uma cultura, de uma história
És mais um gaúcho desgarrado
Pela imensidão clareada do cerrado,
De um horizonte que às vezes lembra,
O nosso campo, solo sagrado.
Aqui nasceste, na linda Brasília,
Para alguns porto, para outros ilha
Mas mesmo assim te lembraria
Que tua gênese é haragana, farroupilha


Por isso meu filho, não te esqueças
Ainda que por aqui cresças,
Que a distância do pago seque o pranto,
Que o tempo se torne acalanto,
Que o amargo amigo esteja de canto,
E que não vejas o sagrado manto
E ainda que o tempo seja tanto...
És pampeano, meu filho, eu te garanto!


E para completar, um belo hino de louvor a "los gauchos" - O Grito dos Livres:

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O nome da bola


 
Muitos foram surpreendidos hoje com a notícia de que o nome da bola oficial da Copa do Mundo 2014 será definidono domingo (02/09), durante o programa Esporte Espetacular. A votação já está aberta há algum tempo e os três nomes finalistas são: Bossa Nova, Carnavalesca e Brazuca. Não, não é brincadeira, as opções são essas. Só essas!

Passado o susto inicial com as alternativas que temos, fiquei pensando no que representa o nome da bola em um evento como a Copa do Mundo, aguardado e assistido por todo o planeta. E quero compartilhar minhas impressões, até para ter certeza de que sou o único que achou infelizes essas três possiblidades.

Primeiro, é importante contextualizar o papel da bola durante a história das Copas. Por paradoxal que pareça, a bola nunca foi protagonista nos torneios até a Copa de 70, no México. Até então, as bolas não passavam disso mesmo: bolas. Eram feitas de couro, toscas, da cor marrom, duras, com a costura exposta (durante as primeiras Copas era comum o uso de faixas ou gorros, pois as costuras da bola causavam lesões sérias em quem se arriscava a cabeceá-la).

Mas no México houve uma inovação. No futebol? Não! Na televisão. Pela primeira vez a Copa do Mundo seria transmitida em cores. Hoje, com televisores 3D e tudo mais isso parece uma bobagem, mas para a época foi uma revolução. Assim, a bola merecia uma nova roupagem. Finalmente, lhe seria dado o devido destaque. Surgiu então a TELSTAR (não por acaso, “estrela da televisão”). Com 32 painéis (ou gomos) costurados a mão, a bola tinha uma circunferência perfeita. Ou seja, era redondinha. Em 74, a TELSTAR apareceu novamente, sem muitas modificações.


Na Copa da Argentina, em 1978, o nome da bola passou a ser mais conceitual, trazendo elementos que identificassem o país sede. O nome não poderia ser outro: Tango. Dessa vez eram 20 painéis, com desenhos que formavam 12 círculos. Uma bola linda. Foi a matriz para as que vieram depois. Em 82, na Espanha, a bola foi a TANGO ESPAÑA, exatamente igual a anterior.

Novamente no México, em 1986, a Copa do Mundo foi jogada com a AZTECA, um nome muito bacana, com desenhos lembrando o antigo povo que habitou o país. Em 90, na Itália a bela ETRUSCO UNICO deixou sua marca. Em 1994, na Copa dos EUA, a bola foi a QUESTRA. Tinha algumas inovações tecnológicas que a deixaram mais suave, mais veloz e mais sensível (Baggio que o diga).

Em 1998 a bola foi, a TRICOLORE, inspirada obviamente na bandeira da França. Era toda fashion e também trazia algumas inovações como uma espuma sintética, enchimento de gás, fechamento individual e “micro balões altamente duráveis” seja lá o que isso signifique.

Em 2002 a Adidas, fornecedora oficial das bolas da Copa, abandonou o design Tango. A ultra moderna FEVERNOVA tinha um conceito mais “asiático”. Não era tão bonita como as Tango, mas quem (como eu) teve oportunidade de jogar com ela sabe que era um filé. Muito gostosa!

Na Copa da Alemanha, em 2006, a Adidas “jogava em casa” e quis apresentar uma bola revolucionária no design e na tecnologia. Nascia a TEAMGEIST, cheia de inovações que não deram lá muita sorte para a seleção brasileira.

A JABULANI, em 2010, foi uma das bolas mais comentadas da história. Não porque fosse a melhor ou mais bonita, mas porque era muito difícil de controlar. Aqui no Brasil ficou famoso o bordão “Jabulaaaaaani” na voz fantasmagórica de Cid Moreira, cada vez que um jogador lançava a bola na arquibancada.

Agora, cá estamos nós, decidindo entre Bossa Nova, Carnavalesca e Brazuca. Então vamos analisar cada uma das nossas opções.

Bossa Nova

Mesmo que o ritmo não seja uma unanimidade, é fato que a Bossa Nova é uma espécie de mito fundante da Música Popular Brasileira. Mas, qual é a primeira relação que se faz quando pensamos em Bossa Nova? Rio de Janeiro, praia, “um barzinho um violão, esse amor uma canção”... O que quero dizer com isso é que o nome remete a UM aspecto do Brasil e não ao país como um todo. As Olimpíadas serão no Rio - A Copa será no Brasil! Acho injusto com o resto do país, que também tem manifestações culturais riquíssimas, um nome que “privilegie” uma cidade (e um conceito) em particular.

Carnavalesca

Nem merecia comentários. Se fosse Carnaval, ainda vá lá, mas Carnavalesca? Mas vamos lá... A Copa do Mundo será (?) uma bela oportunidade para o Brasil demonstrar que não passamos o ano inteiro pelados pulando ao som de escolas de samba. Mais uma vez, a ligação direta que se faz é com o Rio e todo o seu contexto. Antes que me acusem de não gostar do Rio eu digo que adoro. A questão não é essa. O país tem um estereótipo fortemente consolidado no exterior que, certamente, não condiz com a nossa realidade. Gostamos de festa e carnaval sim, mas somos muito mais do que isso. Assim como Bossa Nova, Carnavalesca só reforçaria a imagem que já temos. Será que não queremos que ela seja mais forte, mais verdadeira?

Brazuca

É o menos pior dos três nomes. Ainda assim acho ruim (cara chato, né?). Remete um pouco ao “sou brasileirÔ, com muito orgulhÔ, com muito amÔooor”. Conceitualmente é bacana. O que incomoda é que a Copa do Mundo é... do Mundo! Não é só dos brasileiros. Os nomes das outras bolas remetiam à cultura e à identidade dos países sede, mas não eram tão descaradamente ufanistas assim. “Qual a tua sugestão então, mala?”, devem estar falando....

Bueno, se eu pudesse decidir o nome seria PAMPA. Ah, não gostou é? Pois é, Pampa poderia fazer muito sentido para os gaúchos (como eu) para os Uruguaios e Argentinos. Mas e para o resto do Brasil? E para o resto do Mundo? O que significa Pampa... Pois, é!

Assim, um nome que, embora estereotipado, representaria o Brasil muito bem é SAMBA. E tem tudo a ver com futebol.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Heróis do Olimpo (?)

Cerimônia de encerramento
Passada a euforia dos Jogos Olímpicos chega a hora do inevitável
(e reconhecidamente chato) balanço do evento. É como uma ressaca depois de uma grande festa. Algumas lembranças boas, outras nem tanto. Mas, recordar é viver - então vamos lá!

Do ponto de vista da organização parece que não há o que reclamar. Os ingleses são irritantemente organizados. Mesmo assim, deram algumas mancadas, como no caso da bandeira da Coréia do Norte e outras situações constrangedoras.
Mas, no geral, eles foram excelentes. As instalações (ou "equipamentos", como estádio, ginásio, parque aquático, etc) não tinham a exuberância que tiveram em Pequim,  mas eram perfeitamente compatíveis com a grandeza dos Jogos. Some-se a isso uma gestão eficiente e uma logística perfeita e tem-se o tamanho da responsabilidade que recai agora sobre o Brasil, de um modo geral, e ao Rio mais especificamente. Tradicionalmente, a próxima sede busca superar a sede anterior. Veremos...

Entrando na seara esportiva Londres também rendeu belíssimos momentos. Recordes foram quebrados, limites foram superados e o objetivo maior do espírito olímpico foi alcançado: o congraçamento entre os povos e nações do mundo através do esporte. Coubertin ficaria orgulhoso. Alguns ídolos confirmaram seu favoritismo, como Bolt e Phelps. Outros, como Isinbayeva e Bekele não conseguiram manter-se no degrau mais alto do pódio. Mas saíram de cena já como heróis olímpicos.

Mo Farah em êxtase no Estádio Olímpico
Surgiu algum novo ídolo mundial em Londres? Talvez Mo Farah, com sua história pessoal fantástica e a consagração olímpica diante do povo que o acolheu. Quem sabe Pistorius e a sua superação pessoal, embora polêmica (lembrando que mais de 100 anos atrás o alemão naturalizado americano Georg Eyser ganhou algumas medalhas olímpicas competindo com uma perna de pau). O arqueiro sul-coreano cego também entraria nessa categoria. Mas algum nome que mereça o título de herói olímpico? De ídolo mundial?

Phelps e Bolt já eram grandes ídolos e "apenas" confirmaram seu status. Bolt foi a Londres com o objetivo de tornar-se uma lenda. Não quebrou seus próprios recordes, mas provavelmente alcançou a sua meta. Phelps, é um caso a parte. A mídia tem o tratado como o maior atleta da história dos Jogos Olímpicos. Mas, será mesmo? É o número de medalhas que determina a grandeza de um esportista?

Não creio que Phelps seja o maior da história. Nem mesmo que Larissa Latynina, a antiga detentora do recorde de medalhas, tenha sido. Sem dúvida, estão entre os grandes. Mas, Gabriela Andersen, que chegou extenuada ao final da maratona de Los Angeles, em 84, também está nessa galeria. Mesmo tendo chegado em 37º lugar.

É claro que os números estão intimamente ligados ao esporte: horas, segundos, minutos; altura, distância; pontos, gols, etc., tudo se mede em números. Mas não se resume a eles. Por isso, talvez o choro sincero do ugandês Stephen Kiprotich, vencedor da maratona, valha tanto quanto as 22 medalhas do americano Phelps. Talvez...

Falando em medalhas, EUA e China travaram uma disputa que extrapola o âmbito esportivo. A confirmação da supremacia olímpica americana, conquistada nos últimos dias, tem um componente geopolítico interessante: se a China, potência em ascenssão, ficasse na frente no quadro de medalhas, estabeleceria um simbolismo fortíssimo no xadrez mundial. Foi por pouco, quem sabe no Rio...

E, por falar em Rio, claro, tem-se que falar do desempenho dos atletas brasileiros. Boas surpresas, como os irmãos Falcão. Judô, vôlei e vela mantendo a tradição de trazer medalhas. E algumas decepções. Talvez a mais ilustrativa delas seja a de Fabiana Murer. Não por ter perdido a chance de conquistar medalhas. Mas por sequer ter tentado.
Fabiana após a eliminação

Claro que fazer essa crítica sentado confortavelmente em uma poltrona é até uma cretinice. Mas, ainda assim, é preciso destacar esse fato pelo que ele representa. Fabiana é uma atleta excepcional. É dela o título da campeã mundial, atualmente. Dizer que ela sequer tentou talvez seja injusto, mas não está tão longe da realidade. A atleta alegou que o vento forte na hora de seu salto poderia provocar uma queda caso ela insistisse em saltar... Poderia. E esse é o ponto. Aos atletas brasileiros falta justamente essa dose de confiança, de "sangue no olho", de atitude!

Ricardinho, levantador da seleção brasileira de vôlei, resumiu bem a questão: "faltou cabeça". Ele se referia à partida na qual o Brasil, depois de estar vencendo de 2 x 0 sets e estar a um ponto da medalha de ouro, levou uma virada histórica da Rússia e acabou com a prata. Mas o diagnóstico se aplica a todos os outros casos em que "faltou cabeça" aos atletas brasileiros. Do futebol melhor nem falar...