quarta-feira, 27 de novembro de 2013

A Batalha do Rio Negro e uma das maiores mentiras sobre a história do Rio Grande

Exatamente hoje, 27 de novembro de 2013, completam-se 120 anos de um dos episódios mais emblemáticos da história gaúcha. Foi neste dia, na estação do Rio Negro, próxima a Bagé, que se deu uma das batalhas mais sangrentas da Revolução Federalista.

Naquele dia, uma coluna do Gen. Joca Tavares atacou a coluna do Mar. Isidoro Fernandes, entrincheirada nas cercanias da estação. A luta foi feroz e após um dia inteiro de peleia os maragatos impuseram uma estrondosa derrota aos chimangos: mais de trezentos castilhistas foram mortos na batalha.

Ocorre que depois da derrota, os chimangos, que detinham a máquina pública e boa parte da imprensa gaúcha, criaram o boato que persiste até hoje: que os 300 mortos, na verdade, haviam sido degolados pelos maragatos. O mito foi crescendo e com a vitória dos castilhistas ao final da guerra, foi a versão que permaneceu na história.

Mas a verdade é bem diferente disso. Basta uma pesquisa histórica isenta e de certo fôlego para mostrar que houve, de fato, degolas naquele dia, mas foram em torno de duas dúzias. Os condenados eram criminosos conhecidos, contratados como mercenários, prática comum entre os castilhistas (e, em menor medida, também pelos maragatos).

Uma visita ao diário de Joca Tavares dá detalhes sobre esse dia. Embora representasse um dos lados e, portanto, fosse naturalmente parcial, o diário do general é minucioso e detalhista e não deixa dúvidas quanto aos eventos daquele dia. Além disso, pesquisas feitas pelo grande historiador Alfredo Ferreira Rodrigues (por acaso, meu bisavô) indicam também que aconteceram pouco mais de 20 degolas.

Por outro lado, não resta dúvida sobre a ação criminosa do Cel. Firmino de Paula no Boi Preto, em abril de 94. Surpreendidos enquanto churrasqueavam, cerca de 280 maragatos foram degolados, a título de "vingança". Muitos foram mutilados, castrados e torturados antes de lhes passaram a faca no pescoço.

Essa é uma parte da história do Rio Grande que tenta-se esquecer. Mas só conseguiremos nos livrar de nossos fantasmas quando os encararmos de frente. A Revolução Federalista, que completa 120 anos, merece ser revisitada. A história, como sempre, foi escrita pelos vencedores. Mas ela não está completa.



quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Outros tempos - 20 de setembro

Por ocasião do 20 de setembro, posto aqui um poemito, no qual faz-se uma crítica aos modismos que desvirtuaram a essência pampa.

Outros tempos
Sentado sobre os pelegos
Deixo o mate molhar a palavra
Mirando o passado e colhendo
Os poucos versos de mi lavra

Os tempos agora são outros,
A essência pampa se vai, apartada
Os recuerdos agora são poucos
E nossa história se esvai, transformada

A tradição agora tem dono
Como se pudessem embretá-la,
O patrão agora tem trono
E a história se trai, maltratada

Se fazem agora regramentos
Das vestes da gauchada
E se esquece dos outros tempos
De nossa gênese esfarrapada

Memórias índias vão esquecidas
No campo santo das Missões
Palco de lutas aguerridas
Entre lanças e canhões

Encerram-se liberdades
Nas fronteiras pampeanas
E se criam, nas cidades
Fantasias haraganas

Nos campos de Cima da Serra
Novas modas são inventadas
Trazidas de outras terras
Ganham campo nas canhadas

Mais estranho é o cancioneiro
Que se diz voz do nosso chão
E espanta o estancieiro,
O capataz e o peão.

Tudo concentra e emana
A mui leal e valorosa,
E os gaúchos de fim de semana
Se desvelam em verso e prosa

Mas agora os tempos são vagos
E não importam as tradições
O que vale agora são cargos
E o faz de conta de galpões




sexta-feira, 17 de maio de 2013

Os textos apócrifos de Faroeste Caboclo

Os fãs ansiosos finalmente serão recompensados pela espera. Faroeste Caboclo - o filme, previsto para estrear no dia 30 de maio, promete honrar o clássico da Legião Urbana. Quem conhece a música desde que ela foi lançada sempre imaginou que ela fosse parar nos cinemas, tal é a riqueza de imagens que ela nos traz. Mesmo as novas gerações, quando a escutam pela primeira vez, ficam hipnotizadas com a saga de João de Santo Cristo.

Eu convivi de perto com essa história durante o período que produzi conteúdos para o site oficial do filme e divido agora com vocês alguns dos melhores textos. O primeiro deles é inédito, não entrou no site, não lembro exatamente porquê! Logo depois, uma seleção dos meus preferidos!

Morte e Vida Joanina

João de Santo Cristo não tinha medo. A vida foi cruel com ele e ele foi cruel com a vida. Não porque tivesse nascido perverso. Não porque achasse bom ser ruim. Mas porque foi a vida que o fez assim. Porque não teve escolha ou não sabia que tinha. Porque não achou as respostas. Porque tinha que ser.

A ideia de ser bandido o acompanhava desde criança. O desejo de vingança, o sentimento de exclusão, preconceito e solidão foram tirando aos poucos a inocência do menino do interior. Cresceu sem ver ou saber o que era bondade e dever. Não lhe estenderam a mão e não lhe entenderam o coração.

Mas não era santo e cristo? Nem tão santo ou nem tão cristo. Mas João ele era e como tal trabalhou até a morte do jeito certo, honesto e direito. Tinha esperança. Mas quando a santidade acabou, quando o cristo faltou e a tentação ganhou, João se libertou e o fim começou.

Afinal, quem foi João de Santo Cristo? João de Santo Cristo não é um. Mas dezenas, centenas, milhares de Joãos, nem tão santos ou nem tão cristos, mas que só querem parar de sofrer de um sofrimento infinito. Que saem do campo para a cidade querendo matar a fome e criar os filhos. Às vezes criam a fome. Às vezes matam os filhos. Saem da pobreza e da miséria para tentar ser gente na vida. Nem sempre conseguem. Nem sempre desistem. Mas por crença ou teimosia eles sempre persistem.

Eles são retirantes, que se retiram da própria vida. Que cheguem aos milhões às cidades, que carregam pedra, que lavam roupa, que sobem paredes, por coisa pouca. Que vencem na vida só por nela estar. Todos com a mesma sina, de ser sempre de fora e de nunca fazer parte da festa. Mas se não for isso sofrer é o que resta.

Ou, como diria um outro João*: E se somos Joãos, iguais em tudo na vida, morremos de morte igual, mesma morte joanina: que é a morte de que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte, de fome um pouco por dia - (de fraqueza e de doença é que a morte joanina, ataca em qualquer idade, e até gente não nascida).  

Mas João vai ganhar vida mais uma vez. Na pele de um personagem, na tela do cinema, vai encarnar a saga de tantos como ele. Vai mostrar sua cara. Vai dizer a que veio. Vai ser ouvido. Vai contar sua história e de muitos Joãos que terão sua hora e sua vez. E lembrar que todos temos um pouco de João, de Santo ou de Cristo.

*João Cabral de Melo Neto, autor de Morte e Vida Severina


Seleção de Textos

Estes textos foram publicados no site oficial do filme e contextualizavam situações, trechos ou lugares a que a música se refere. Foi um trabalho incrível de se fazer e rendeu ótimos frutos. Confere aí!

Winchester 22 - Arma icônica dos faroestes e essencial na história de João de Santo Cristo

Os anos de João de Santo Cristo  Contextualização do período em que a história se passa

Peixe com ascendente em Escorpião Uma "análise" dessa combinação explosiva em JSC

Contrabando de armas no Brasil Um retrato desse cenário no país


Faroeste e o caboclo Para entender a junção desses dois universos

Honra se lava com sangue História dos duelos e dos crimes de honra


Faroeste Caboclo - Uma análise narrativa Um artigo incrível do Prof.Dr. Luiz Gonzaga Motta com uma análise da canção de Renato Russo

Cordel Urbano A inspiração para Faroeste Caboclo

Série "Deu no jornal", explorando o noticiário que formava o universo de Santo Cristo:

O começo de tudo A infância do nosso anti-herói

Mensagens do passado Recados secretos dos candangos

A mãe de João de Santo Cristo Ela bem que tentou

O pai de João de Santo Cristo Sua morte plantou a semente do ódio


Top 5 René Sampaio As melhores cenas do filme na opinião do diretor


Perfil Antonio Calloni O Mustafá também já foi vilão

É pau, é ferro, é o fim do caminho Locações das primeiras cenas

As festas de Rock "Pra se libertar"

Aborto Elétrico no Rock in Rio De volta aos holofotes

Urbana Legio Omnia Vincit Legião Urbana Vence Tudo

Uma noite para a história Tributo a Renato Russo no Rock in Rio

15 anos sem Renato Russo Muito tempo sem o Trovador Solitário


O pai de Maria Lúcia O saudoso Marcos Paulo em um dos seus últimos trabalhos

Série "Cadernos de Renato Russo" 

No tempo em que ficou preso a uma cama, Renato mantinha um diário onde despejava todo a sua energia e genialidade, detalhando projetos futuros

Destaque no Jornal Nacional Edição histórica do telejornal, quase toda dedicada a Renato Russo no dia do seu falecimento

O leite e o mel de Dom Bosco A profecia sobre a localização da futura capital

O céu de Brasília Um dos mais lindos do mundo